‘Se você anistiar, vira um país sem regras’
Autor(es): Letícia Lins
O Globo - 10/02/2012
Dilma diz que há formas legítimas de reivindicar, mas que situações incompatíveis com a democracia são inaceitáveis
PARNAMIRIM (PE). A presidente Dilma Rousseff condenou ontem os rumos da greve deflagrada por policiais militares da Bahia, e advertiu que não se pode confundir reivindicações legítimas de uma democracia com o clima de desordem instaurado naquele estado. Ela ressaltou que conceder anistia para os líderes do movimento é levar o Brasil ao risco de se transformar em um "país sem regras".
Dilma fez os comentários durante visita a Parnamirim, em Pernambuco, onde passou a manhã da quinta-feira inspecionando a Transnordestina, ferrovia que vem sendo construída dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Ela conversou com a imprensa depois de chegar ao canteiro de obras no município sertanejo, a 513 quilômetros de Recife.
— O Brasil tem hoje uma visão de garantia da lei e da ordem muito moderna. Nós não consideramos que seja correto instaurar o pânico, o medo, criar situações que não são aquelas compatíveis com a democracia. Numa democracia, sempre tem que se considerar legítimas as reivindicações.
Mas há formas de reivindicar. E não considero que o aumento de homicídios nas ruas, a queima de ônibus, entrada em ônibus encapuzados seja uma forma correta de conduzir o movimento — advertiu.
E revelou seu espanto com cenas e gravações que viu no "Jornal Nacional" anteontem, com PMs grevistas incitando atos de vandalismo e articulando paralisações em outros estados.
— Fiquei estarrecida ontem (quarta-feira). Eu estava em Juazeiro (no Ceará), quando vi gravações divulgadas por uma televisão, no caso a TV Globo, sobre o fato de que há outros interesses envolvendo a paralisação.
Isso não é correto.
E avisou:
— O governo federal prontamente vai agir no suporte e em apoio aos governadores, sempre que eles peçam. Nós não podemos entrar em nenhum desses processos sem a solicitação dos governos. Ocorreu em todos os casos, no Maranhão, no Ceará, na Bahia. Teremos presença garantida do governo em todas essas questões.
Aguardo com muita expectativa o desenrolar de todos os acontecimentos, pois acho que estamos em um momento especial do Brasil. E é importante, mais uma vez, que a democracia, que as formas democráticas de solução desse tipo de conflito sejam aquelas que de fato vão estar em vigor, que sejam implementadas.
Dilma repudiou as solicitações de anistia para os envolvidos no movimento, já que greve de militares é proibida pela Constituição. E propôs medidas duras: — Não é possível esse tipo de prática. Vai chegar um momento em que vão anistiar antes de o processo grevista começar. E não concordo com isso. Por reivindicações, as pessoas não têm que ser presas nem condenadas. Agora, por atos ilícitos, crimes contra o patrimônio, contra as pessoas e contra a ordem pública, elas não podem ser anistiadas. Se você anistiar, aí vira um país sem regras.
A presidente ratificou: — Eu repito. Acho que você tem que respeitar democraticamente os movimentos, suas reivindicações. Mas não concordo, em alguns casos, de maneira alguma, com o processo de anistia, que parece sancionar o ferimento da legalidade. Não concordo e não vou concordar.