quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Aquecimento faz Ártico liberar metano, potente gás do efeito estufa

Steve Connor Do Independent

Cientistas viajando a bordo de um navio russo descobriram no Ártico a primeira evidência de que podem estar sendo liberadas na atmosfera milhões de toneladas de metano, um gás do efeito estufa, vinte vezes mais potente do que o dióxido de carbono.

Dados preliminares da expedição, liderada pelo pesquisador Örjan Gustafsson, da Universidade de Estocolmo, sugerem que grandes depósitos de metano armazenados nas profundezas estão literalmente borbulhando na superfície do Oceano Ártico, à medida em que a região se torna mais quente e a sua cobertura de gelo se retrai.

Os depósitos de metano são importantes porque cientistas acreditam que, no passado, uma liberação semelhante teria sido responsável por uma elevação rápida das temperaturas, gerando mudanças climáticas abruptas que causaram, por sua vez, extinções em massa de plantas e animais.

Grandes bolhas no oceano
Os pesquisadores, que percorreram toda a costa norte da Rússia, descobriram grandes concentrações de metano em várias regiões que cobrem milhares de quilômetros quadrados da plataforma continental siberiana.

Nos últimos dias, os cientistas relataram a existência de áreas onde foram vistas bolhas na superfície do mar, produzidas pelo que chamaram de “chaminés de metano”. Eles acreditam que isso se deve ao derretimento das camadas de solo e subsolo outrora permanentemente congeladas, que atuavam como uma tampa, impedindo o metano de escapar dos depósitos submarinos, formados antes da última Era do Gelo.

O fato estaria ligado ao acelerado aquecimento das águas locais nos últimos anos.

— Descobrimos uma área em que a liberação de metano é tão intensa que o gás não teve tempo de dissolverse na água do mar, emergindo em grandes bolhas — relatou o pesquisador sueco. — Essas chaminés de metano foram comprovadas com a ajuda de sensores no fundo do mar e aparelhos que medem a movimentação sísmica.

Por ser um gás do efeito estufa cerca de vinte vezes mais potente do que o dióxido de carbono, os cientistas temem que a liberação na atmosfera de grandes quantidades de metano venha a acelerar o aquecimento global e gerar um círculo vicioso, no qual as temperaturas maiores aumentariam o derretimento do solo, liberando mais metano, que aceleraria o aquecimento.

— O subsolo congelado atua como uma tampa, impedindo o metano de escapar dos depósitos submarinos — disse Gustafsson. — Mas a atual descoberta nos faz supor que existam outras áreas, muitas inacessíveis, de intensa liberação de metano. E não sabemos quantas são. Tudo indica que essas camadas de solo permanentemente congelado estão sendo perfuradas

Chávez expulsa ONG que o criticou

Soraya Aggege
SÃO PAULO

(O Globo, 20 de setembro de 2008)

Dois dirigentes da organização internacional Human Rights Watch, expulsos da Venezuela na madrugada de ontem, horas depois de divulgarem um relatório crítico sobre os direitos humanos no país, afirmaram em São Paulo — para onde foram embarcados às pressas — que a medida só reforçou o relatório e amplificou a preocupação mundial com a “absoluta intolerância” de seu governo.
A expulsão foi parcialmente televisionada na Venezuela, com a Chancelaria afirmando que expulsará qualquer estrangeiro que emita opiniões “contra a pátria”.

Num comício, o presidente Hugo Chávez disse ter ordenado pessoalmente a expulsão:

— Ontem (anteontem) chegou à Venezuela um destes personagens que andam fazendo o trabalho sujo dos ianques e começou a dar declarações. Então, chamei o chanceler e disse: expulse-o daqui! — contou Chávez.

Em São Paulo, o diretor para as Américas da HRW, o advogado chileno José Miguel Vivanco, contou ter sido a primeira vez que o grupo — uma organização independente com sede em Nova York e representação em mais de 70 países — foi expulso de uma nação da América Latina.

— Já tivemos diálogos ásperos, mas nunca sofremos expulsões.

Ele qualificou de “muito grave” a expulsão, porque acaba enviando uma mensagem que pode intimidar aqueles que se dedicam a promover e defender os direitos humanos na Venezuela: — Nossa expulsão só demonstra que o governo de Hugo Chávez mantém um regime de absoluta intolerância com qualquer tipo de crítica.

Vivanco e o subdiretor da entidade, o americano Daniel Wilkinson, contaram ao GLOBO que foram destratados pelos policiais, e não puderam usar o telefone para avisar qualquer pessoa. Segundo Wilkinson, quando o embaixador de seu país, Patrick Duddy, foi expulso de Caracas na semana passada, ele preferiu não se envolver, assim como sua organização.

— Também tenho críticas ao governo dos EUA com relação aos direitos humanos, principalmente por sua ação em Guantánamo. O problema é que o governo Chávez pinta a todos como “mercenários do Império”. É a forma que encontrou para driblar as críticas — disse.

Chávez acusou o governo americano de estar trás de um complô para derrubá-lo e assassinálo, e afirmou que a visita dos representantes da HRW à Venezuela faz parte do plano.

— O presidente dos Estados Unidos (George W. Bush) está desesperado porque sabe que tem os dias contados e trata de fazer qualquer coisa para incendiar não apenas a Venezuela, mas todo o continente.

Mais cedo, a Chancelaria dissera que Vivanco violara a lei ao entrar no país com visto de turista para realizar trabalho de direitos humanos. A presidente da Assembléia Nacional, a chavista Cilia Flores, mostrou-se orgulhosa pela ação do governo, alegando que servirá de exemplo. O Chile lamentou a expulsão de Vivanco e considerou a reação venezuelana desproporcional. Já Washington disse que “a expulsão do líder de uma instituição internacional independente é repreensível”. A Sociedade Interamericana de Imprensa repudiou a medida, dizendo que era “mais um atentado à liberdade de expressão” no país.

Com agências internacionais