Após o último debate entre John McCain e Barack Obama realizado semana passada, a mídia não perdeu tempo e foi levantar detalhes sobre a vida de Joe, o encanador. Pena que não investigaram com o mesmo esforço as afirmações difamatórias que Barack Obama fez sobre a Colômbia.
Caso você tenha passado os últimos dias em outro planeta, Joe é a classe trabalhadora. Foi Joe, de Toledo, Ohio, quem na semana passada resumiu com perfeição os planos de Obama para a economia: aumento de impostos para aqueles que assumem riscos e são bem sucedidos e a utilização desse dinheiro para ampliar a assistência social.
Joe praticou o que chamo de “a audácia da verdade”. Ele colocou um candidato à presidência, educado em Harvard, em uma situação difícil. Por isso, a mídia decidiu que ele precisava ser posto em seu devido lugar. Enquanto isso, o quarto poder abriu mão de qualquer discussão a respeito das ofensas proferidas por Obama contra o maior aliado dos Estados Unidos na América Latina.
Mas sejamos justos. Provavelmente, Obama não saiu de casa na noite de quarta-feira para insultar milhões de colombianos e ressuscitar a idéia que muitos vizinhos dos Estados Unidos ainda mantêm, a idéia do Gringo Mau. Mas quando McCain destacou que não faria sentido uma oposição ao acordo de livre-comércio entre Estados Unidos e Colômbia – já que os Estados Unidos já estão abertos às importações vindas da Colômbia e porque o acordo abriria novos mercados para exportadores americanos durante um período de crise – Obama foi pego de calças curtas.
Ele procurou em sua memória por algo que tivessem lhe instruído a falar sobre a Colômbia. Parece que seu disco rígido estava cheio de tópicos sobre as grandes questões trabalhistas. E eis o que acabou dizendo: “A história na Colômbia nesse momento,” afirmou, “é a de líderes sindicais alvos de assassinatos, que ocorrem regularmente e que não são investigados”.
McCain deveria ter ser agido naquele exato momento, porque levantar falso testemunho contra seu vizinho, que por acaso também é seu amigo, é coisa que não se faz. Os assassinatos ligados a questões trabalhistas na Colômbia caíram muito nos últimos cinco anos e o número de condenações cresceu. Obama estava errado. Além disso, McCain perdeu a oportunidade de perguntar a Obama como ele irá conciliar sua hostilidade em relação à Colômbia – cujo presidente tem 80% de aprovação – com a promessa de melhorar a imagem dos Estados Unidos no exterior.
Um político americano deveria ser mais responsável ao dar lições de moral à Colômbia. A demanda americana por cocaína, que financia a criminalidade colombiana – inclusive as sanguinolentas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) – quase acabou com aquele belo país. Os colombianos, que cooperam bravamente com a infeliz “guerra às drogas” do governo americano, vêm pagando um preço alto.
Na época que o presidente Alvaro Uribe chegou ao poder, em agosto de 2002, a Colômbia era um Estado falido. Naquele ano, houve 28.837 homicídios em todo o país, fazendo da Colômbia um dos locais mais perigosos do planeta Terra.
Naquele ano, também aconteceram 196 assassinatos de membros do movimento sindical e suas mortes não estavam desligadas da violência política que assolava o país. Os sindicatos do setor público têm em suas raízes a ideologia revolucionária que compartilham com as FARC, o que os colocou, por décadas, do lado esquerdo da violenta política colombiana. Do outro lado, estão aqueles que se armaram para se opor às agressões da guerrilha.
Uribe tem trabalhado para restaurar a paz através do fortalecimento do Estado e isso é ruim para ambos os lados. No entanto, à medida que os rebeldes foram sendo contidos, os simpatizantes das FARC correram para Washington, tentando desacreditar Uribe. Os democratas os receberam de braços abertos. Enquanto isso, o número de assassinatos vem caindo sensivelmente e os membros de sindicatos têm-se beneficiado de maneira especial com o aumento da segurança.
Como explicou o editorial de um jornal na última sexta-feira, de 2002 a 2007, o número de sindicalistas colombianos assassinados caiu quase 87%. De acordo com qualquer escala razoável, isso é um progresso, principalmente se levarmos em consideração a situação que Uribe herdou. Em 2000, 155 sindicalistas foram assassinados e em 2001, foram 205. Os números só começaram a cair quando ele assumiu o poder.
Em outubro de 2006, o presidente criou uma unidade investigativa especial, ligada ao gabinete do procurador geral da república, para cuidar dos assassinatos de sindicalistas. A unidade começou a operar em fevereiro de 2007 e ela relata que desde agosto “foram abertas investigações de 855 casos” e que “179 mandados de prisões preventivas foram expedidos, 61 casos estão prontos para ser encaminhados à justiça para julgamento e 115 suspeitos foram condenados em 75 sentenças”.
Hoje em dia é bem mais seguro ser membro de um sindicato na Colômbia do que ser cidadão comum. Isso é um fato, e seria importante saber por que Obama se recusa a reconhecê-lo.
Seria em virtude de sua grande dependência das contribuições da AFL-CIO – maior federação de sindicatos dos Estados Unidos e contrária aos acordos de livre comércio – à sua campanha? Ou talvez Obama tenha uma inclinação ideológica em favor da esquerda radical colombiana, como a presidente da câmara Nancy Pelosi. Caso essa última opção seja a verdadeira, valeria a pena perguntar se um governo Obama modificaria a política externa americana, fazendo com que ela pareça mais favorável a insurgentes como os da FARC.
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