Governadores oposicionistas venezuelanos têm ação cada vez mais restrita por Chávez
Janaína Figueiredo Correspondente
• BUENOS AIRES -O GLOBO, 19/07/2009
Depois de vencer a eleição para governador do estado venezuelano de Táchira, em novembro do ano passado, o líder do tradicional partido social-cristão Copei, César Pérez Vivas, foi impedido de utilizar o palácio de governo da capital estadual. Segundo contou o próprio governador em entrevista ao GLOBO, o palácio “foi invadido por deputados regionais do chavismo, a primeira de uma série de violações constitucionais que representam um golpe de Estado progressivo contra os governos opositores”. Na próxima semana, o governador de Táchira integrará uma missão de opositores da “revolução bolivariana” que embarcará rumo a Washington, onde pretende reunir-se com autoridades da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Departamento de Estado, para denunciar o que considera violações constitucionais cometidas pelo governo.
— Todos os dias enfrentamos ameaças, boicotes, atropelos. Não contamos com os recursos necessários e nossa autoridade não é reconhecida pelo governo central — declarou Pérez Vivas, de San Cristóbal, capital de Táchira.
Segundo o governador antichavista, algumas regiões de Táchira estão sofrendo problemas de abastecimento de combustíveis e alimentos.
— Estão fazendo um bloqueio econômico contra os estados governados pela oposição — assegurou Pérez Vivas, denunciando, ainda, a ocupação militar de aeroportos, colégios, clubes esportivos e organismos estaduais. — As Forças Armadas adotaram uma atitude muito agressiva e são usadas pelo governo central para controlar tudo que for possível. Isso é um golpe de Estado interno.
Diálogo é inexistente entre os dois lados
As eleições regionais de novembro foram um duro golpe político para o presidente Hugo Chávez. O Partido Socialista Unido da Venezuela, fundado e liderado pelo presidente, elegeu governadores em 17 dos 22 estados venezuelanos, mas a oposição venceu nos estados e cidades mais importantes do país, que juntos representam 45% do eleitorado e 70% do PIB (conjunto de riquezas produzidas pelo país). Além de Táchira, a oposição passou a governar os estados de Miranda, Zulia, Carabobo, Nova Esparta e a Prefeitura Maior de Caracas, onde venceu Antonio Ledezma, da Aliança Bravo Povo. Após o revés eleitoral, Chávez reconheceu a vitória opositora, em tom irônico:
— Reconheço seu triunfo e espero que eles reconheçam o chefe de Estado e a Constituição. Ao prefeito maior (de Caracas), reconheço seu triunfo. Espero que não volte ao velho caminho do golpismo.
Como era esperado, o relacionamento entre Chávez e os governos opositores se transformou numa queda-de-braço. Hoje não existe diálogo, apenas trocas de acusações e ataques pessoais. O prefeito de Caracas realizou este mês uma greve de fome, para exigir o pagamento de recursos necessários aos salários de seus servidores.
Durante o protesto, Ledezma, que também integrará a missão aos EUA, exigiu a intervenção da OEA.
— O governo Chávez está buscando limitar os governos opositores, impedir que sejamos eficientes em nossas gestões — assegurou.
A situação de Ledezma é um pouco mais complicada que a de seus colegas opositores, já que este ano a Assembleia Nacional (controlada pelo chavismo) aprovou a Lei de Distrito Federal, que criou a figura de chefe de governo do Distrito Capital, autoridade designada pelo presidente do país.
Antes da votação da polêmica lei, o prefeito maior de Caracas tinha um poder similar ao dos governadores estaduais, atuando como principal autoridade nos cinco municípios da área metropolitana da capital. Com a nova lei, o chefe de governo do Distrito Capital assumiu quase todas as suas funções e bens públicos.
— O governo aprovou um projeto já rechaçado nas urnas, no referendo sobre o projeto de reforma constitucional chavista, em dezembro de 2007 — acusa o prefeito maior.
Segundo ele, que entrou na Justiça para tentar anular a nova lei, “o governo montou um esquema perverso para boicotar as autoridades opositoras, eleitas legitimamente”.
— Ocupam escritórios, assumem o controle de áreas que deveriam ser controladas pela oposição e violam constantemente as normas internas do país — dispara Ledezma.
O governador do estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski, do partido Primeiro Justiça, acusou semana passada o governo chavista de provocar incidentes violentos em seu estado. O governador se referia à ocupação por parte da Guarda Nacional de uma sede do comando policial de Curiepe. Houve vários feridos.
— É um plano premeditado. Existe a intenção de fazer algo que ainda não sabemos o que é — declarou Capriles Radonski.
Para os governadores opositores, o objetivo de Chávez é criar um clima de ingovernabilidade, que os obrigue a renunciar.
— Estamos sofrendo uma escalada autoritária e não podemos denunciar porque os juízes têm medo do governo — lamentou Pérez Vivas. — O que diremos em Washington é que presidentes eleitos também podem ferir a democracia e a comunidade internacional deve estar atenta.
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