quinta-feira, 14 de maio de 2009

'Querem silenciar as denúncias de corrupção'

O Globo - Dono da TV Globovisión diz que fechamento da emissora 'terminaria definitivamente com o disfarce'

ENTREVISTA Alberto Ravell

Depois dos ataques ao prefeito de Maracaibo, Manuel Rosales, atualmente asilado no Peru, o governo do presidente venezuelano Hugo Chávez decidiu utilizar toda sua artilharia contra o jornalista Alberto Ravell, dono do canal de TV Globovisión. Em entrevista ao GLOBO, por telefone, o jornalista afirmou que o fechamento de seu meio de comunicação “terminaria definitivamente com o disfarce”: “Seríamos uma ditadura assumida”.

Janaína Figueiredo - Correspondente • BUENOS AIRES

O GLOBO: O senhor espera uma medida iminente contra o canal? ALBERTO RAVELL: Domingo passado o presidente praticamente sentenciou o fechamento do canal. Temos três processos abertos (na Comissão Nacional de Telecomunicações) e se dois deles forem executados perderíamos a concessão. Isso significaria que perderíamos nossa concessão por dar um furo, por ter informado, de forma responsável e veraz, o acontecimento de um terremoto em Caracas.

Meia hora depois de ocorrido o terremoto, o governo ainda não havia informado nada sobre o assunto. As pessoas estavam nas ruas, sem informação, e nós informamos ao país a verdade e criticamos os meios de comunicação do governo por não terem informado corretamente. Isso provocou a fúria do governo.

Chegaram a dizer que estávamos nos apropriando das funções do ministro da Informação. Somos jornalistas, uma notícia não pode esperar um pronunciamento do governo.

A disputa entre o governo e a Globovisión não é de hoje...
RAVELL:
O que eles estão querendo é silenciar nossas denúncias de corrupção. Denunciamos o filho do ex-vice-presidente, José Vicente Rangel. A disputa não é de hoje, mas agora o governo decidiu radicalizar. O presidente já disse que a propriedade privada não existe mais em nosso país. A Assembleia Nacional está aprovando todas as leis que foram rechaçadas nas urnas (no referendo). Governadores opositores não conseguem governar.

Vivemos uma ditadura disfarçada de democracia. O fechamento de nosso meio de comunicação terminaria definitivamente com o disfarce, seríamos uma ditadura assumida.

O fim da concessão da RCTV prejudicou bastante a imagem do governo Chávez, sobretudo no exterior. RAVELL: Espero que o governo esteja meditando suas decisões, porque, de fato, o fim da RCTV custou caro a Chávez. Gostaria de aproveitar esta entrevista para fazer um apelo ao presidente Lula. Peço a ele que dê bons conselhos a nosso presidente, seu pupilo. (Lula) Peça a ele (Chávez) que respeite a liberdade de expressão.

Quais foram as outras duas denúncias contra o canal? RAVELL: Em uma, um jornalista nosso comparou o presidente Chávez a Mussolini. Na outra, nas eleições regionais de 2008, transmitimos uma entrevista com o governador (opositor) de Carabobo na qual ele confirmou seu triunfo, que até então não havia sido informado pelas autoridades.

Nos últimos anos, o canal foi um importante protagonista político no país. Isso é o que mais incomoda o governo?

RAVELL: Globovisión não é um partido político, é um canal que critica o governo do presidente Chávez, mas que também abre espaço para os chavistas que decidem fazer alguma denúncia e não encontram espaço em canais estatais. Não nego que este canal se oponha ao governo, mas nunca atuamos como delinquentes.

O presidente já nos chamou de conspiradores, magnicidas, lacaios. O presidente é militar e pretende nos impor uma linha editorial, e isso não podemos tolerar. Não vamos ficar de joelhos nem mudar nossa linha editorial.

O senhor nunca manteve um diálogo com Chávez? RAVELL: Claro que sim, em outras épocas nos encontramos e discutimos. Ele ouve tudo o que você tem para dizer, não interrompe e anota num caderninho que depois deve jogar no lixo.

Chávez está convencido que o canal, como outros, foi cúmplice do golpe de 2002.
RAVELL:
Não fomos cúmplices de nenhum golpe e sim perdoamos o fato de que o presidente deu um golpe em 1992. A democracia venezuelana o indultou e lhe permitiu chegar à Presidência através das urnas.

Em abril de 2002, após o golpe, vários canais evitaram dar informação e optaram por transmitir desenhos animados e programas de culinária...
RAVELL:
Mas veja bem: ele se queixa porque naquele dia não transmitimos informações, numa circunstância muito delicada para nosso país, e agora pretende fechar nosso canal porque informamos um terremoto!

 

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