quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Minc critica modelo de reforma agrária adotado no país

Catarina Alencastro
O Globo
2 de outubro de 2008

RIO - O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse na quarta-feira que o modelo de reforma agrária do Incra está superado. Depois de admitir que o Ibama poderá rever a lista com os maiores desmatadores da Amazônia , entre eles assentamentos do Incra, Minc criticou o modelo adotado atualmente para distribuir terras aos assentados que, segundo ele, transforma os assentamentos em tabuleiro de xadrez.

Minc disse que transformar uma grande área em pequenos módulos de terra, a serem explorados separadamente por cada família, não favorece nem a produtividade agrícola nem a formação de corredores ecológicos.

- Esse modelo de tabuleiro de xadrez acho que é superado. Então a gente tem que realmente pensar nisso. Estamos querendo encontrar soluções conjuntas com o Incra - disse o ministro, que ainda se recupera do mal-estar causado no governo pela divulgação da lista que coloca o Incra no topo do desmatamento da Amazônia . ( Veja a lista completa dos cem maiores desmatadores )

Minc explicou que a divisão do assentamento em pequenos lotes não permite que se faça uma produção coletiva, de forma a aumentar a produtividade, e também não permite que o governo faça um corredor florestal para dar sustentação à fauna e flora dentro do assentamento.

- Quando você levanta que está tendo problema de sustentabilidade, não é para jogar para baixo, é para corrigir e para dar um salto adiante. Eu quero uma reforma agrária lógica. Acho que a melhor defesa da reforma agrária não é fingir que ela não tem problemas na Amazônia. A melhor defesa é aumentar a sustentabilidade ambiental da reforma agrária - disse.

Sobre as contestações que o Incra faz das vultosas multas que deve ao Ibama pelo desmatamento de 223,3 mil hectares em floresta amazônica no Mato Grosso, Minc disse que recebeu um relatório preliminar e admitiu que algumas delas têm cabimento, como por exemplo, o fato de as coordenadas de um assentamento estarem erradas. Ele voltou a dizer, no entanto, que os dados comprovam que houve desmatamento superior ao permitido pela legislação ambiental em várias dessas áreas.

Classificando a si mesmo como autonomista, o ministro disse que, da próxima vez, lerá os levantamentos antes.

- Daqui para frente, eu verei a lista. Acho que houve um excesso, mas eu tenho esse espírito meio autonomista.

Minc não quis comprar briga com sua antecessora, a senadora Marina Silva (PT-AC), que terça-feira contestou algumas ações que ele vinha divulgando como novas . Em tom de desculpa, ele disse que sua gestão é de continuidade à de Marina, mas que, como a senadora "saiu atritada" com o presidente Lula, ele conseguiu desemperrar algumas questões que estavam paradas, como o Fundo de Mudança Climática.

- Muitas vezes existem trabalhos sendo feitos, mas, em determinado momento, é necessário um plus concentrado - afirmou.

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